Imperialisms - From the Center West to the Middle East
“Cores e guerra”... ou “Meu mundo em cor-de-cinza”
Um pano branco. Bandeira branca, amor? Uma tela, do latim texere: tecer, entrelaçar; tinta preto&cinza sobre o fundo branco: um rosto... muitos quase-rostos. Rostidade é o buraco negro da subjetividade sobre o fundo branco da significância e é uma política, diz Deleuze. A necropolítica também? Não. É fake! Na guerra, não há sentido nem subjetivação possíveis. A política foi inventada para imaginar a vida em comum. A guerra não é uma política, é um fracasso do diálogo, uma a-política.
Tanques Barak, drones Spark, munição vagante Spike Firefly, morteiros Iron Sting “apagaram tudo, pintaram tudo de cinza”. Mil tons de cinza: cinza-montanha, cinza-céu, cinza-mar, cinza-pele, cinza-sangue... Cinza é a cor mais tanática; a cor do extermínio: cinza-Gaza.
Só uma percepção pareidólica, ainda verá, nos splashs pretos que, aqui e acolá, pontuam o cenário multi-gris da pintura, olhos, sem brilho, opacos, que sejam, e ainda assim, metonímias de um corpo, indícios de humanidade, posto que em colapso.
O genocídio é a tela!
E essa tela não narra nada, todavia não é muda. O trauma da guerra, de seu terror, inter(dita) qualquer narrativa – Benjamin estava certo –, mas não cala o pranto. É quase-possível “ver” choro e ranger de dentes, um lamento samaritano, dos mortos-vivos soterrados sob escombros de tinta acrílica.
Essa tela é um grito de alerta. E uma exortação, uma convocação, um exemplo. Se não fosse cinza, seria o pisca-pisca vermelho do perigo e da emergência, do termômetro prestes a explodir, avisando que o fim autofágico da modernidade neoliberal vem a cavalo com a humanidade na cangalha. O fim já era! O chamamento que Dan Pelegrin nos faz em “Do Vietnã à Faixa de Gaza” é para já pintar, não o futuro, que ao intempestivo pertence, mas o tempo que nos resta: o presente.
Estruturado num paradoxo consciente e proposital, e um tiquinho irônico, esse “Guernica” tardio [não por anacronia estética, mas por extemporaneidade do tema: guerra, ainda hoje?], figuração do ódio diabólico, no sentido daquilo que divide, desune, resulta de um compromisso coletivo dos artistas que o pintaram com o altero. Um longo processo arrimado no diálogo, na tolerância, na colaboração, no apreço ao comum, no respeito às singularidades, na convivência mesmo em face do dissenso.
Talvez não se trate de desejar a paz absoluta, possível e improvável, monocromaticamente branca, pela qual se faz a guerra, mas de suportar uma coexistência com/para todas as nuances, se não por nós, pelas cores.
Fortaleza, primavera de 2025.
Tutunho
Do Vietnã à Faixa de Gaza, 2025
Óleo sobre tela
320 X 860 cm
Trabalho ampliado através do Projeto Ateliê
Mídia ocidental - fatos do Oriente Médio, 2025
Oléo sobre tela
100 X 80 cm
Trabalho ampliado através do Projeto Ateliê
Bomba nuclear - onde você está!? 2025
Tinta acríclica sobre tela
130 X 160 cm.
Susto e Náusea. 2025
Tinta acrílica sobre tela
38X27 cm.
Reclamação em protesto. 2025
Tinta acrílica sobre tela
88 X 158 cm.
Um corpo que informa ou uma mentira descarada?!, 2024
Tinta acrílica sobre tela
100 x 69 cm
Triste. 2004
Tinta acrílica sobre tela
160X130 cm.
Acervo Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT - MACP
Indignado. 2025
Tinta acrílica sobre tela
70 X 50 cm
Trabalho ampliado através do Projeto Ateliê
Gota d'Água. 2003
Tinta acrílica sobre tela
130X120 cm
Acervo Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT - MACP
Olhando para o futuro, 2024
Tinta acrílica sobre tela
30 x 80 cm
Outros desenhos da mesma fase:
Petróleo e Golfo Pérsico, 1997
Tinta nanquim, 30 X 40 cm
Imperialismos e colonialidade, 2001
Aquarela e tinta sobre papel. 9 de 20 X 30 cm
Mortos (Corpos em decopsonação)
Feridos


















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