Alienígenas
José Serafim Bertoloto
Professor e historiador de arte
Doutor em Comunicação e Semiótica
Alienígenas,
2000
Jornais
de Cuiabá
Em
toda a sua história o homem traz o desconhecido como referência, o medo e o
desejo freudiano nos leva a imaginar coisas. Coisas que a imaginação que não vê
limites, nem teor qualitativo, neste pensar. O artista, muito mais que outros
indivíduos, não estipula barreiras e, em seu processo criativo, transmite parte
dessa efervescência interior para a nossa realidade.
Estamos sendo observados,
um olhar enigmático nos atinge pela fresta da janela a todo momento. Um ser
alienígena estuda o nosso comportamento, qual será o motivo dessa aproximação?
O que são eles? Seres
enigmáticos, ou absurdos do nosso desconhecimento?
O homem teme o
desconhecido, que ao mesmo tempo o intriga e o fascina, instigando-o às buscas
e às descobertas. Figuras autóctones do nosso pensamento visualizam o
alienígena com a mesma imagem. O lado primitivo do pensamento em relação com a
natureza intocada.
Seres deformados,
estilizados, volumosos ... a imaginação do artista não para de criar.
Em Pellegrim, o objeto em
criação, recebe às influências do tempo e do espaço que envolvem a sua
produção. A contemporização determina o seu projeto criativo, porém não impede
o caráter único e singular do mesmo. Cada ser criado é parte inerente gestativa
do seu progenitor. Filhos diferentes porém com traços genéticos que o realinham
em um único conjunto visual.
Com uma amostra singela do
seus trabalhos, porém de uma sutil perspicácia, este artista, propões uma
análise do nosso comportamento diante do novo, do diferente do alienígena.
Vislumbra o contato entre os diferentes, de uma forma pacífica, sem conflitos,
questionáveis com certeza, porém aceitáveis. Neste gesto põe em choque, a
própria globalização. A passividade dos excluídos.
Pellegrim aqui sobrepõe o
enigmático, os ícones dos possíveis visitantes são estilizados, na medida que a
deformação é inerente ao nosso imaginário, com relação aos lendários
extraterrestres. Com suas deformações gestualísticas, que se aproximam às
garatujas, em ação proposital de nos conduzir a uma reflexão sobre a história
arte, suas formas pré estabelecidas e valores canonizados nos quais ela se
cristalizou, ele, “o artista”, redimensiona não só o conceito, mas a
materialidade da mesma.
Dessa forma, sem se
prender a nenhuma escola ou tendência, ele simplesmente exercitou o seu desejo
de criar, distanciando-se das linhas academicistas ou regionalistas, que povoam
as artes plásticas na contemporaneidade em Mato Grosso. Nesse sentido,
percebemos às artes como resultado do exercício do fazer, preocupados não
unicamente com o conteúdo, mas sim, com o direito do pensar e de materializar o
desconhecido que está dentro de nós, transformar o diagrama mental em obra.
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