Assimetria dos lados - Diálogos Pertinentes
Maria
José Sanches
Licenciada
em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Mestre em Artes pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Doutora em
Arquitetura e Urbanismo, USP.
Assimetria dos lados, 2011 - Diálogos pertinentes
Cidade Imaginada é uma obra publicada pela Fundação Athos
Bulcão, em 1994, que apresenta ensaio plástico-poético de Wlademir Dias-Pino.
As
múltiplas referências à Brasília são, na realidade, reverências à cidade-caput
do país, onde a utopia e o imaginário apresentam-se em articulações plurívocas,
para a concretização das idéias/ideais, expressão da produção humana, nas
diferentes áreas do conhecimento.
Wlademir
selecionou frases, recompôs fotografias, para traduzi-las em imagens que
caracterizam o trabalho do artista, dedicado à concepção de um tema
pré-definido. Reunir textos em prosa e verso, conectados às ilustrações em
perfeita sintonia, é lição de um mestre.
O
trabalho de Daniel Pellegrin, apresentado nessa mostra, é um tributo ao artista
carioca cuiabanizado, diálogo livre entre os valores culturais da terra de
origem e os da capital mato-grossense que recebeu Wlademir, por longos anos.
A
síntese das frases selecionadas para a Cidade
Imaginada, a exemplo:
“A natureza muda sem sair do lugar”
“Toda ação sem abstração não atinge o universal”
“E o que veio da imposição da verticalidade”,
Ressoam
nas palavras de Daniel, entre elas:
“Sobre o muro, um curioso equilíbrio”
“O colo como suporte. Afeto da própria existência”
“Distância que possibilita o enquadramento”
Ordenações
subvertidas, na mudança imutável da natureza; na leitura universal do abstrato;
a verticalização das grandes metrópoles - incontestável imagem em ação - fruto
da necessidade ou imposição de paradigmas, mecanicamente, assimilados?
Em
outra face, há uma divisão impertinente, na opção do equilíbrio sobre o muro; a
distância permite o enquadramento, e a fotografia ensinou ao homem a
aproximação de planos posteriores, eliminando os anteriores, como demonstraram
os artistas do Impressionismo. Que haja, sempre, um colo, na hora certa, como
suporte...
“Eu
como extensão do outro” é uma confissão natural do discípulo que refletiu sobre
a múltipla produção do artista, a quem agradece pelo enriquecido aprendizado.
Se
a Cidade Imaginada é composta em
preto e branco, Daniel selecionou cores para ressaltar, com intensidade
comedida, as formas das letras e das figuras criadas, em maioria, pela ausência
da linha, mas com domínio preciso da técnica, para dar um tratamento especial à
fotografia, conjunto de pigmentos que exige distanciamento para a percepção e
leitura da imagem.
O
livro concebido por Wlademir Dias-Pino pode ser fruído como uma sequência de
páginas independentes; fragmentos do espaço e do tempo, que constroem a
metrópole. A obra de Daniel Pellegrim pode ser visualisada, quadro a quadro, na
seqüência escolhida pelo leitor que, ao final, pode ter a sensação do passeio
concluído, porém, o conjunto das obras se apresenta (re)leituras proporcionadas
por novos percursos e questionamentos.
Aos
migrantes, de perto, ou “de longe Cuiabá cabe” ...
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