Pellegrim abre nova exposição em Chapada

Pellegrim opens new exhibition in Chapada
Luiz Fernando Vieira
Journalist

Transgenics, November 11, 2009
Life section - A Gazeta


Chapada dos Guimarães appears even more enchanted in the new solo exhibition by artist Daniel Pellegrim, which bears the stigmatized name Transgenics. The painter renews himself and creates a new universe of landscapes and characters that sometimes seem strange, sometimes so familiar. They reveal a spirit of Brazilianness that is nonetheless universal in that it can be “read” by anyone, whether in the middle of the Cerrado, in the Northern Hemisphere or in Asia. The exhibition also marks the inauguration of a new space dedicated to art in the bucolic city.

Anyone who remembers Pellegrim's other work will feel certain similarities with phases such as the nankin drawings from 1998, or the aliens series. Mainly because the sinuous, exotic shapes are something common between them. But his work is different, he imagines scenarios, characters and situations that link him to a contemporary trend. There's no disassociating the figures he creates from the “strange” characters that feed toy art culture. It's interesting to note that they may be misshapen, very different from what we're used to, but they arouse almost instant sympathy.

And it all comes from there, from the middle of the red walls of Chapada, a place also abundant in shapes and scenery that are to some extent surreal. The artist uses as his subject figures, characters created and recreated from the landscapes, from the twisted branches of the Cerrado, from the shapes of the clouds, which can be seen from Chapada dos Guimarães from above or up close, from the puddles, from the immense crops, from the curves of the rivers, hills, mountains and caves.

It's from there that characters like Gee emerge, who synchronizes with the myth of the “Negro D'água”, explains Pellegrim. At the top of his head he has a limb that he uses to breathe, rising to the surface of the water, and is easily mistaken for a fish or a dolphin. In the dim light of the river depths, its eyes are bulging and luminous. In order to withstand a long time without going to the surface, it has developed huge cheeks to store air. Its hands and feet have membranes that make swimming easier. He has a stone in his chest that he uses to pick up the vibrations of every movement of the river. He can feel the river's movements from source to mouth. Very strong, swims very quickly. From time to time he gets annoyed by the large number of nets, traps, hooks, bottles, plastic bags, cans and strange things he finds along the way and ends up capsizing some boats. However, those who respect the river have an ally in it. The river is his home, he lives and dies by the water. It is possible to perceive his presence through the sound that the acceleration of his arms emits underwater, “geeeeeeee”, he describes.

Another character is Luk. He was created by the artist by observing the profile of mountains and trees. With three eyes that are always open, the third in his belly, Luk has no mouth or arms; if food comes from sight, he lives from observation. For Luk, seeing is an imperative, explains Pellegrim. He metamorphoses into the landscape, he is in it and, from this space-time in suspension where the character generates and is generated, he casts his gaze asking questions of those who observe him, as if to say: “Here, there is only one tree and one other being besides myself, who tries to balance this landscape. So what? In the sky, the four-pointed stars point to possible directions: North? South? East? West? And the full moon illuminates his loneliness, while at the same time shining a light on a hat that could turn his head. He lives in mountainous or hilly places and because he likes altitudes, he has made friends with thunder, storms, mists and gales. According to the painter, it is said that when someone sees him and tilts their head as Luk does, they can almost telepathically enter his visionary world for a few moments.

And there are more, scattered across Pellegrim's canvases, whose strong colors are striking to the eye. The same can also be said of the tangle of shapes and repetitions of these same characters that the painter places on the canvases and which encourages the viewer to exercise their vision, trying to identify the details. That's how it is in “Luk and the Last Tree”. If you look closely, you'll see that the character is represented over and over again, blending in with the environment.

In another work, Dançantes, the same characters dancing in the scene serve to create a kind of frame. It's another exercise in observation, like the one in Boca da Caverna, with a large gathering of “strange” beings. This can also be said of Yubis, Sapoato and Bena. They certainly live up to the title of the exhibition. But, contrary to what many people preach about food of this kind, they are there to help celebrate and preserve nature.

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Pellegrim abre nova exposição em Chapada
Luiz Fernando Vieira
Jornalista

Transgênicos, 11 de novembro 2009
Caderno Vida – A Gazeta

Chapada dos Guimarães aparece ainda mais encantada na nova exposição individual do artista plástico Daniel Pellegrim, que leva o estigmatizado nome Transgênicos. O pintor se renova e cria um novo universo de paisagens e personagens que ora parecem estranhos, ora tão familiares. Que revelam um espírito de brasilidade que não deixa de ser universal na medida em que consegue ser “lido” por qualquer um, seja em pleno Cerrado, no Hemisfério Norte ou na Ásia. A exposição também marca a inauguração de um novo espaço dedicado à arte na bucólica cidade.

Quem lembra de outros trabalhos de Pellegrim vai sentir certas semelhanças com fases como a dos desenhos em nankin de 1998, ou a série alienígenas. Principalmente porque as formas sinuosas, exóticas, são algo comum entre elas. Mas ele traz um trabalho diferente, imagina cenários, personagens e situações que o ligam a uma tendência contemporânea. Não há como dissociar as figuras que cria dos “estranhos” personagens que alimentam a cultura da toy art. É interessante notar que eles podem ser disformes, muito diferentes do que estamos acostumados, mas despertam uma simpatia quase que instantânea.

E vem tudo dali, do meio dos paredões vermelhos de Chapada, lugar também abundante em formas e cenários em certa medida surreais. O artista usa como tema figuras, personagens criados e recriados, oriundos das paisagens, do retorcido dos galhos do Cerrado, das formas das nuvens, que de Chapada dos Guimarães são vistas de cima ou bem de perto, das poças, das imensas lavouras, das curvas dos rios, montes, serras, cavernas.

É da li que saem personagens como o Gee, que se sincroniza com o mito do “Negro D´água”, explica Pellegrim. No alto da cabeça ele possui um membro que usa para respirar, erguendo até a superfície das águas, sendo facilmente confundido com um peixe ou um boto. Divido a pouca luminosidade das profundezas dos rios, seus olhos são esbugalhados e luminosos. Para resistir grande tempo sem ir à superfície, desenvolveu enormes bochechas para guardar o ar. Mãos e pés possuem membranas que facilitam o nado.

Possui no peito uma pedra que usa para captar as vibrações de toda movimentação do rio. Pode sentir movimentos do rio da nascente a foz. Muito forte, nada com grande rapidez. Vez por outra se irrita com a grande quantidade de redes, armadilhas, anzóis, garrafas, sacos plásticos, latas e coisas estranhas que encontra pelo seu caminho e acaba virando algumas embarcações. Contudo, quem o considera, respeitando o rio, tem nele um aliado. O rio é sua casa, vive e morre pela água. É possível perceber sua presença per meio do som que o acelerar de sues braços emite embaixo d´água, “geeeeeeee”, descreve.

Outro personagem é Luk. Ele foi criado pelo artista a partir da observação do perfil de montanhas e árvores. Com três olhos sempre abertos, sendo o terceiro na barriga, Luk não possui boca, nem braços, se alimento vem da visão, ele vive da observação. Para Luk, ver é um imperativo, explica Pellegrim. Ele se metamorfoseia em paisagem, ele é etá nela e, desse espaço-tempo em suspensão onde o personagem é gerador e é gerado, ele lança seu olhar indagando quem o observa, como se falasse: “aqui, resta apenas uma única árvore e um outro ser além mim mesmo, que busca equilibrar esta paisagem. E ai?”.

No céu, as estrelas de quatro pontas apontam possíveis direções: Norte? Sul? Leste? Oeste? E a lua cheia clareia a sua solidão, ao mesmo tempo em que ilumina um chapéu-nave que poderá fazer sua cabeça. Vive em lugares serranos ou montanhosos e por gostar de altitudes, fez amizade com trovões, tempestades, brumas e ventanias. Segundo o pintor, dizem que quando alguém o vê e inclina a cabeça tal qual Luk costuma fazer, a pessoa consegue, quase que telepaticamente entrar por alguns instantes em seu mundo visionário.

E existem mais, espalhados pelas telas de Pellegrim, cujo colorido forte salta aos olhos. Também se pode dizer o mesmo do emaranhado de formas e repetições desses mesmos personagens que o pintor coloca nas telas e que incita o observador a exercitar a visão, tentando identificar os detalhes. É assim em “Luk e a Última Árvore”. Se detivermos o olhar veremos que o personagem está representado inúmeras vezes, confundindo-se com o ambiente.

Em outro trabalho, Dançantes, os mesmos personagens que dançam na cena servem para criar uma espécie de moldura. Mais um exercício de observação, como o que a Boca da Caverna suscita, com uma grande reunião de seres “estranhos”. O que também se pode dizer de Yubis, Sapoato e Bena. Eles certamente fazem jus ao título da exposição. Mas, ao contrário do que muitos pregam sobre os alimentos desse tipo, eles estão ali para ajudar a celebrar e a preservar a natureza.



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